Capítulo 9 - Z výšky se i problémy zdají být menší (Do alto, os problemas também são menores)

Certos de que estão definitivamente separados, Lara e Carlos seguem viagem separados. Lara procura uma montanha alta, e Carlos literalmente sobe pelas paredes... de pedra. Em um hotel incomum e um trem rumo ao início, tudo pode acontecer. Mas será que acontece?

Por: Luiz Fernando Destro

Publicado: Setembro 11, 2021

Lara olhou pela janela do trem, e viu montanhas na linha do horizonte. Imaginou que deveria estar perto de seu destino. A viagem de Brno a Hradec Kralové demoraria cerca de três horas, e de lá para as montanhas Krkonoše seria mais uma hora e meia.

Não tinha pressa. Por que teria? Não tinha que encontrar ninguém, não tinha que falar com ninguém, não tinha que beber cerveja, olhar belos lugares, comentar algo curioso, compartilhar um momento... não tinha que fazer nada com ninguém. Não tinha que fazer nada com Carlos.

E por isso estava triste.

Carlos adorava montanhas. Adorava vistas do alto, ainda quer isso significasse caminhadas extensas morro acima, ou uma escadaria de trezentos degraus. Também gostava de escalar, algo que ela, Lara, jamais arriscara fazer. Mas hoje ela faria. Se Carlos pedisse.
O trem chiou e parou na plataforma da estação de Hradec Kralové.

*****

Carlos olhou pela janela da van e viu montanhas no horizonte. Deveriam estar chegando ao destino. Depois de não encontrar Lara no bar, Carlos não soube bem o que pensar. Ou ela nunca foi, e isso significaria que ela desistiu dele, ou ele se atrasou demais, e ela imaginou que ele não queria mais conversa. E desistiu dele.

Fosse o que fosse, o resultado era o mesmo: ela desistiu dele.

Decidiu voltar ao seu plano do dia anterior – aproveitar sozinho o pouco tempo que ainda tinha na República Tcheca, fazendo o que ele gostava – escalada. E dentro da van estavam outros três escaladores, todos na mesma excursão rumo à Boêmia do Norte. Passariam um dia agradável subindo em rochas e no dia seguinte Carlos poderia voltar a Praga, pegar suas malas e planejar o resto de sua vida. Sem Lara.

Seu pensamento foi interrompido pelo guia Ivan, que estava ao volante.

- Pausa para toalete – ele disse com voz de tenor – e ainda poderão ver um pouco da bela cidade de Hradec Kralové!


*****


Lara encontrou a guia que contratara para levá-la a Krkonoše. Era uma jovem de vinte e poucos anos chamada Jitka, que encontrou Lara na plataforma da estação. Agora estavam tomando um café em uma loja de conveniência de um posto de gasolina. Jitka dava explicações básicas à Lara.

- Krkonoše na verdade é o nome do parque nacional. Nele fica a maior montanha da República Tcheca, que se chama Sněžka. Nós vamos para Špindlerův Mlýn, que é o povoado mais próximo e lá nós...

Lara já não ouvia mais. Qualquer coisa estava bem para ela. Só queria ir o mais longe e o mais alto possível. Tão alto que seus problemas ficassem pequenos.

Acabaram o café e saíram pela porta traseira que dava acesso ao estacionamento atrás do posto. E, pela porta da frente, o guia Ivan entrou com seu grupo, procurando os banheiros.

*****


Carlos olhou para cima e viu uma rocha estreita e alta. Já tinha visto aquele monolito antes. Estava em Adršpach, a nordeste da Hradec Kralové. Um parque natural com diversas formações de pedra que atraiam a curiosidade de turistas. E também de cineastas. Aquela rocha a sua frente havia sido cenário de uma série de TV que ele e Lara maratonaram alguns meses antes, só porque sabiam que tinha sido gravada na República Tcheca. E, naquela época, estavam fissurados pela ideia de viajar para lá.

E agora, aqui estava ele. Na República Tcheca. Em Adršpach. E sem Lara.

Respirou fundo. Apoiou o pé em uma reentrância da rocha e começou a subir. Talvez do alto seus problemas ficassem menores.


*****


A jovem guia Jitka bem que tentava, mas estava difícil entusiasmar Lara. Os lugares eram lindos, não havia dúvida. Mas isso só piorava a sensação de solidão em Lara.

Chegaram em Špindlerův Mlýn, e nas redondezas se podia ver diversas encostas que, no inverno, se cobriam de neve e se convertiam em pistas de esqui. Agora a relva verde cobria a paisagem, e o hotel Praha, com seu estilo peculiar, parecia uma construção que se encontraria em uma cidade serrana do Brasil.

Jitka continuava as explicações, visivelmente preocupada em não estar correspondendo às expectativas. Lara, então, a interrompeu.

- Jitka, pode me levar o mais alto que conseguir?

*****


Carlos içou o próprio corpo pela última vez, e finalmente chegou ao topo do monolito. Seus colegas de excursão e o guia Ivan logo se juntaram a ele. Tomaram algum fôlego, saboreando a sensação de vitória que o fim de uma escalada sempre traz.

- Veja que bela vista – disse Ivan – para aquele lado já é Polônia. E, para aquele, está Hradec Kralové. Mas se olhar naquela direção, dá para ver Krkonoše, onde está nossa montanha mais alta, Sněžka.

Carlos olhou para onde Ivan apontava. Havia acabado de conquistar uma grande rocha. Poderia seguir seu caminho pela vida e, quem sabe, conquistar uma montanha inteira, como a Sněžka. Mas, no fim, do que adiantaria tantas glórias, sem ter com quem compartilhá-las? Qual seria o sentido de conseguir subir – na vida ou na montanha – sem ter alguém para subir junto? Do que serviria chegar ao topo do mundo sozinho?

E ele estava sozinho.

- Eu quero a Lara – Carlos falou em voz alta, para a incompreensão de seus colegas.

*****


Jitka estacionou o carro em um mirante, a montanha de Sněžka se descortinando a sua frente. Já tinha desistido de dar muitas explicações para a avoada Lara. Limitou-se ao básico:

- Aqui é o mais alto que conseguimos chegar.

Estava alto o bastante. Lara se sentia pequena, como jamais se sentira. Após todos esses dias buscando e sendo buscada por Carlos, havia percebido o quanto ele se importava com ela. E quanto ela se importava com ele. Mais do que jamais admitira. Mas agora tudo ficava claro com a luz da tarde que começava a baixar por trás das montanhas Krkonoše.

- Eu quero o Carlos – Falou em voz alta, para a incompreensão de Jitka.

*****


O plano de Carlos era simples: passaria a noite em Liberec, uma cidade de tamanho razoável para oferecer boa acomodação. Dormiria por lá e na manhã seguinte retornaria a Praga. Cedo ou tarde Lara teria que aparecer no hotel. E quando a encontrasse, iria dizer tudo que sentia, ainda que isso custasse a amizade dos dois que – a essa altura – já parecia irremediavelmente comprometida.

O guia Ivan fez uma curva com a van e entrou na alça de acesso para Liberec. Combinaram que ele deixaria Carlos no centro da cidade, antes de retornar com o resto do grupo para Brno.

Quando pediu uma recomendação de hotel, Ivan foi taxativo:

- Eu recomendo o hotel na torre de Ještěd – disse o guia – É um edifício curioso, no alto de um morro, com uma vista linda. Você chega lá em um teleférico. Te deixo na estação.

Alguns minutos depois, Carlos se despediu de Ivan e de seus colegas de escalada e se apressou em direção ao teleférico prestes a partir.

Mas antes que conseguisse chegar, as portas fecharam e a gôndola de metal começou sua subida em direção a Ještěd.

*****


A guia Jitka ficou aliviada em se livrar de uma cliente desanimada como Lara. Tanto que nem se importou em sair do caminho de volta e deixá-la em Liberec, onde ela poderia pegar um trem para Praga na manhã seguinte.

Quando Lara pediu uma recomendação de hotel na cidade, Jitka só pôde recomendar Ještěd. Afinal, Lara passara o dia inteiro querendo ir o mais alto possível, e a torre de Ještěd seria o hotel mais alto da cidade.

Deixou Lara na estação do teleférico e conseguiu vê-la entrando na gôndola logo antes da porta fechar. Teve mais sorte do que o rapaz que veio logo atrás, e que acabou ficando para fora.

*****


Carlos chegou à recepção do hotel na torre de Ještěd, e pediu um quarto, apresentando seu passaporte.

- Brasil? Curioso! – O recepcionista pareceu surpreso com o passaporte azul – É o segundo brasileiro que recebemos hoje. Não costumamos ter tantos, mas veja só... dois no mesmo dia.

Carlos não prestou muita atenção. Estava cansado do dia longo e da escalada. Precisava de um bom banho e de descanso. O dia seguinte seria decisivo para conquistar – ou perder – Lara de uma vez. Por isso, não estava interessado nas fofocas do recepcionista.

- Há um restaurante no hotel? – Carlos ia precisar comer algo antes de dormir.

- Sim, certamente. Fica aberto até as dez – o recepcionista continuou, entregando um cartão magnético – Seu quarto é o 505.

*****


Lara colocou o cartão magnético na fenda da porta do quarto 405, e entrou. Quartos de hotel são quase sempre muito parecidos, e a disposição do espaço não era diferente neste. Mas ao menos ele tinha uma vista espetacular. Os últimos raios de sol já haviam sumido e agora só restava uma luminosidade púrpura no horizonte, que aos poucos ia cedendo espaço para um azul profundo e para as estrelas.

Lara precisava de um banho e, em seguida, de um jantar. Havia visto um restaurante no lobby. Iria se permitir uma boa refeição antes do retorno a Praga e o início de uma nova vida. Uma vida a dois. Ou assim ela esperava.

No banho, Lara tentava imaginar como seria um reencontro com Carlos. Afinal, um dia teriam que se reencontrar. Ou no hotel em Praga. Ou no voo de volta. Ou no Brasil. Mas ela teria uma chance de olhar no olho dele e perguntar, cara a cara, quais eram os reais sentimentos dele por ela. E, se as suspeitas dela estivessem corretas, ele a amava.

Ela, com certeza, amava Carlos.

Lara acabou de se vestir e saiu no corredor do hotel. Apertou o botão do elevador e esperou. De repente, um pensamento terrível lhe veio à cabeça. E se tudo que ela achou que percebeu fosse apenas obra de sua imaginação? E se ela amasse Carlos, mas Carlos não a amasse?

Se sentiu tola, envergonhada e com medo. Decidiu voltar para trás e pedir alguma coisa pelo serviço de quarto. Subitamente a ideia de estar sozinha entre tanta gente desconhecida a deixou desconfortável.

A porta de quarto de Lara se fechou. A porta do elevador abriu. Carlos deu uma espiadela para fora e não viu ninguém no corredor. A porta do elevador fechou, e ele seguiu para o restaurante.

*****


De Liberec a Praga não seriam mais do que duas horas e meia. Carlos se ajeitou na poltrona e ficou esperando o trem partir. Faltavam cinco minutos para as oito da manhã, como ele pôde ver no relógio sobre um poste na plataforma.

Distraiu-se com o movimento, pessoas indo e vindo. Ficou olhando os rostos, reparando nos traços peculiares dos tchecos e, vez ou outra, topando com alguém nitidamente estrangeiro. O ponteiro do relógio andou mais um minuto.


*****


Lara entrou na plataforma, caminhando apressadamente. Faltavam quatro minutos para as oito, e o trem partiria logo. Precisava achar seu caminho no meio da multidão de pessoas indo e vindo. Seu vagão era o de número quatro, segunda classe.

Em pouco mais de duas horas chegaria a Praga e iria ao hotel, diretamente. Talvez Carlos tivesse aparecido, ou deixado uma mensagem.


*****


O relógio no poste da plataforma andou mais um minuto. Agora faltavam apenas dois para a partida, e Carlos checou novamente seu bilhete: De Liberec a Praga, partida às 8h00, segunda classe, vagão número três.

Reparou que seu cadarço estava desamarrado. Inclinou-se para refazer o laço, no mesmo instante em que Lara passava do lado de fora de sua janela.

Quando ergueu novamente o tronco, Lara já tinha entrado no vagão número quatro, e o trem deu um solavanco, indicando que estava partindo.

*****


Foi uma viagem tranquila, para Lara e para Carlos, separados por não mais que algumas fileiras de assentos e duas portas automáticas. A paisagem da Boêmia do Norte logo foi substituída pelas colinas da Boêmia Central e, um pouco depois, o número crescente de construções indicava que Praga estava se avizinhando.

Eram dez e trinta e sete quando trem amarelo finalmente bufou pela última vez, parando na estação principal de Praga – a mesma estação onde Lara havia partido em um ônibus equivocado, alguns dias antes.

Lara desceu apressada do vagão, e caminhou pela plataforma rumo à saída. Carlos se levantou, e ficou na ponta dos pés para alcançar a mochila no compartimento superior. Ao fazer esse movimento, ficou de costas para a janela, e Lara passou do lado de fora.

Lara chegou primeiro ao saguão, pessoas andando de lado para o outro, em um ritmo frenético. Olhou as placas de sinalização, e viu um letreiro amarelo, letras pretas, com o texto “Východ”. Lara havia aprendido, da maneira mais dura, que com Y era saída. E saiu.

Carlos chegou ao saguão logo depois. Olhou as placas e viu um letreiro amarelo, letras pretas, com o texto “Vchód”. Sem Y. Era entrada ou saída? Já não se lembrava. Então resolver sair por lá mesmo.

Carlos e Lara estavam de volta a Praga, onde viveram o primeiro capítulo de sua novela. E, em breve, viveriam o epílogo.

Capítulo 10 - Zpět na začátek (De volta ao início)

A Estreia em 11 / 11

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