Era um mosteiro, virou um hotel

O que fazer com um mosteiro quando os monges rareiam? Transformar em hotel cinco estrelas! Pelo menos é isso que fizeram dois empreendimentos em Praga.

Por: Luiz Fernando Destro

Publicado: Dezembro 01, 2020

No passado, um mosteiro abrigaria dezenas, talvez centenas de monges de sua ordem. Porém, com os novos tempos, caiu drasticamente o interesse da juventude pela vida monástica. Some-se a isso os perrengues geopolíticos do século XX, e o resultado é uma grande propriedade ociosa, e com problemas para se manter.

Em países menos conectados com sua história, os mosteiros seriam destruídos e substituídos por alguma estrutura moderna, ainda que destoante do entorno. Em Praga, felizmente, isso não é possível – seja pela consciência do povo na preservação de sua própria história, seja por restrições impostas pela legislação.

Então, se não se pode (e não se quer) destruir, a solução é transformar.

O bairro de Malá Strana, a porção de terra entre o castelo de Praga e o rio Moldava, abrigava dois mosteiros que, ao longo do tempo, perderam sua função e seu brilho. Um era o mosteiro agostiniano ligado à igreja de São Tomás; o outro, o mosteiro dominicano, ligado à igreja de Santa Maria Magdalena.

Ambos seguiram o mesmo roteiro: nos anos de ouro do catolicismo, eram importantes propriedades, com inúmeros monges residentes. Com o declínio do poder da igreja, e ascensão dos diversos cenários políticos, o número de monges rareou e os mosteiros ficaram em péssimo estado. Fisicamente, inclusive.

E ambos buscaram a mesma solução: renovar a edificação, transformando-a em um hotel de luxo, mas mantendo suas características históricas. A fórmula se provou um sucesso – nas duas vezes.

O mosteiro dominicano tornou-se o charmoso Hotel Mandarin Oriental Prague, da prestigiosa cadeia Mandarin Oriental, famosa pela beleza de suas propriedades. Com 99 quartos, o hotel possui como destaque um relaxante spa na área que um dia foi uma capela. Certamente um ambiente tranquilo!

Curiosidade: durante a construção, que foi amplamente supervisionada pelo departamento de patrimônio histórico tcheco, foram encontradas várias peças muito antigas, com valor arqueológico. Algumas delas estão expostas no corredor que dá acesso ao spa.

Já a outra propriedade, no mosteiro agostiniano, tornou-se o Hotel Augustine Prague, outra pérola da renovação de espaços. O Augustine também dispõe de um spa, mas não onde era uma igreja porque, bem, a igreja ainda está lá! E que igreja. Consagrada a São Tomás, nasceu gótica e recebeu mudanças renascentistas e barrocas, estas últimas das mãos do famoso arquiteto local Kilian Ignac Dienzenhofer, o mesmo da igreja de São Nicolás, há exato meio quarteirão de distância. Ter a igreja integrada no complexo do hotel é uma mão na roda para quem quer organizar seu casamento e sua lua de mel em Praga.

No The Augustine, não só a igreja sobreviveu, mas também o próprio mosteiro, que continua ativo, em uma parte privada do complexo. Não mais que seis monges moram ali, e entre outras tarefas cuidam da impressionante biblioteca do mosteiro, com diversos livros tão raros quanto antigos.

Voltando ao hotel, vale a pena destacar mais dois ambientes: um é o bar, instalado em um salão que era o antigo refeitório dos monges, e cujo teto é coberto de afrescos, criando um ambiente distinto; e o outro é a suíte presidencial, localizada na torre do monastério. É um triplex, com a cama no andar mais alto, e uma vista de 360 graus que mostra, entre outras atrações, o castelo de Praga, a igreja de São Nicolás, a Ponte Carlos e o rio Moldava. Para quem se casou na igreja de São Tomás, ESSA é a suíte perfeita para a lua de mel.

Por fim, o The Augustine reserva mais uma surpresinha: por séculos foi produzida ali, no mosteiro, uma cerveja escura chamada Cerveja de São Tomás. Parte da vida monástica incluía trabalho, e os monges trabalhavam fazendo cerveja (veja aqui um post sobre o assunto). Hoje, evidentemente, não há mais produção no local, mas a cerveja continua sendo feita em outro local, de acordo com a receita tradicional. E é vendida no bar e restaurante do hotel – e somente lá. Mais um feliz exemplo de conservação do patrimônio!

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