Aonde iniciar-se no mundo do vinho tcheco

Para os amantes da enogastronomia, um dos grandes prazeres de uma viagem a Tchéquia é, sem dúvida, a oportunidade de descobrir sua enorme variedade de vinhos. Para este objetivo, o ideal é visitar o sul da Morávia, aonde são produzidos mais de 96% dos vinhos tchecos.

Por: Javier Mazorra

Publicado: Março 19, 2020

Ainda que fartamente conhecido, é sempre oportuno recordar. Além de elaborar algumas das melhores cervejas do mundo, Tchéquia produz excelentes vinhos – muitos deles premiados nos mais importantes concursos mundiais. Bom exemplo é o Prêmio Absoluto de melhor vinho rosado concedido (2016) ao rosée Horák pelo reconhecido concurso francês Vinalies Internationales.

O único problema enfrentado pela Tchéquia em relação aos seus vinhos é a baixa produção, inferior a meio milhão de hectolitros/ano. Em 2018, a França, que divide com Itália e Espanha os três primeiros postos da produção mundial,  produziu 49,4 milhões de hectolitros/ano.

Na quase totalidade, a discreta produção tcheca de vinhos é consumida no próprio país. Assim, apreciá-los e conferir a qualidade deles implica viajar para aonde os viticultores tchecos criam verdadeiras maravilhas.

Degustação em lindo palácio

Saborear um bom vinho tcheco é possível em grande parte do país, mas nada se compara a fazê-lo no Palácio Barroco de Valtice, um dos mais espetaculares da Europa Central. É comum a visita a esse palácio coincidir com tomadas de filmes de época, mas, sobretudo, o destaque é a sua  vinícola histórica, sede do Centro Nacional do Vinho (Národní vinařské centrum).

Naquele Centro, o mais extraordinário é ter o privilégio de provar in loco os melhores vinhos tchecos, eleitos no Salão Anual de Vinhos do país. A partir de 100 coroas tchecas, você fará uma série de degustações. Ainda, se é grande apreciador de bons vinhos e da enogastronomia, você terá por opção investir entre 400 e 500 coroas tchecas e participar em verdadeiro banquete. A experiência pode durar até duas horas e meia, enquanto você saboreia verdadeiros tesouros, auxiliado por especialista.

Dentre as informações oferecidas por Národní vinařské centrum ao visitante, uma delas dá conta que o vinho é produzido na região de Valtice desde a época romana. O imperador (de 161 d.C até 180 d.C) Marco Aurélio anulou o decreto do imperador (de 81 d.C a 96 d.C) Domiciano, de plantar vinhedos ao norte dos  Alpes. A anulação promoveu a produção de vinhos em parte da Europa Central.

Alguns séculos após, o carismático rei Wenceslau, que acabou por se tornar santo, levou o mundo do vinho muito a sério. Por anos, ele foi considerado Supremus Magister Vinearum (Mestre Supremo dos Vinhedos), e patrono das safras. Com altos e baixos, esta atribuição ao rei persiste até hoje, com notável avivamento nos últimos anos.

Embora haja videiras e produção de vinho, inclusive, próximo a Praga, as quatro áreas de real importância neste campo estão concentradas no extremo sul da Morávia, na fronteira com Áustria e Eslováquia. Se apenas uma sub-região estivesse em questão, seria a que cerca a bela cidade de Mikulov. Contudo, há vinhos extraordinários em outros lugares, como Znojemská (Znojmo); Velkopavlovická (Brno); e Slovácká (Zlín), tendo como referência o entorno do rio Dyje.

Dois terços da produção tcheca são vinhos brancos, com destaque para duas variedades de uvas nativas - Müller-Thurgau e a Grüner Veltliner, embora com presença importante da uva riesling. Bom lembrar que esta região da República Tcheca está no mesmo paralelo da Alsácia, e com condições (climáticas e de solo) bem semelhantes àquelas do país vizinho.

Um brinde aos tintos

Quanto aos vinhos tintos, grandes joias da vitivinicultura tcheca devem ser  descobertas agora pelos verdadeiros especialistas. Neste caso, a variedade predominante é a Svatovavřinecké, embora seu espaço é dividido com as uvas Pinot Noir e Cabernet Sauvignon.

Esta informação é importante, porque os tchecos levam muito a sério a indicação, em seus rótulos, de todos os tipos de dados que ajudam o cliente a escolher. Além de informar a região, sub-região e a cidade aonde as uvas foram colhidas, apontam os Trats - vinhedos de origem da uva e seu teor de açúcar. Algo essencial nos rótulos é encontrar a denominação: Jakostní víno s přívlastkem, que significa vinho de qualidade com atributos especiais, atribuído apenas aos melhores vinhos tchecos.

O Centro Nacional do Vinho tcheco abre ao público durante todo o ano. Melhor ainda se você puder escolher a data. O ideal para desfrutar do mundo tcheco do vinho é o mês de setembro, época da colheita, mas, principalmente, assistir e participar nos festivais - ou vinobraní, como são chamados. Tais festivais acontecem em toda a região, inclusive Brno, capital da Morávia do Sul.

Para conhecer os vinhedos tchecos, é proveitoso seguir por rotas criadas especialmente para a finalidade. Dentre elas, algumas podem ser percorridas por bicicleta, possivelmente, o meio de transporte ideal para descobrir paisagens extraordinárias, repletas de palácios barrocos e de castelos medievais – cenário para centenas de vinícolas familiares, que durante a época da colheita abrem as suas portas aos viajantes.

Na vila, há boa oferta de acomodações, bem recomendadas. O mais próximo ao Palácio de Valtice é o Hotel Besední dům Valtice, bastante concorrido.

Talvez, o endereço web mais completo sobre o vinho tcheco seja:

https://www.wineofczechrepublic.cz/en/

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