Um relógio, vinte segundos, mil turistas

A beleza do Relógio Astronômico de Praga é imensa. Seu espetáculo nas horas cheias é um show à parte. Mas requer pontualidade.

Por: Colaborador Convidado

Publicado: Setembro 24, 2020

Eu me lembro da primeira vez que vi uma apresentação do Relógio Astronômico de Praga. Milan, nosso guia, nos avisou: “Faltam cinco minutos para o show. Quem quiser andar um pouco e tirar fotos, fique à vontade. Mas estejam de volta pontualmente às onze. Porque às onze horas e vinte segundos, já acabou”.

Ri por dentro, achando exagero. Não era. O show do relógio astronômico é, de fato, muito rápido. Demora, de fato, 20 segundos. Mas nem por isso é, de fato, menos lindo, ou menos impressionante. Dá pena de ter só um par de olhos, porque a gente quer acompanhar, simultaneamente, a caveirinha, o turco e os doze apóstolos... e estes, ainda por cima, estão divididos em duas janelas.

Não dá para ver tudo, e você vai perder algum detalhe. O que é uma ótima desculpa para voltar dali a uma hora, e rever o espetáculo sob outro ângulo, mas invariavelmente acotovelando uma massa disforme de turistas.

Nessa minha primeira vez eu tive a mesma sensação que muitos novatos em Praga tem: achei o relógio pequeno. Mas ele não é, já que no total o conjunto deve ter pelo menos dez metros de altura. Essa falsa percepção acontece por causa das fotos clássicas do relógio. Ou se pega o mostrador em detalhe, ou se mostra todo o pórtico. Os dois casos enganam: as fotos só do mostrador dão a impressão que é uma estrutura enorme – você supõe que o fotógrafo estava pertinho, mas ele não estava, certamente usou um zoom.  Fotos do pórtico fazem você pensar que aquela é a torre (e proporcionalmente seria um relógio grande), mas na verdade a torre é bem maior, o pórtico é um detalhe da torre e o relógio é um detalhe do detalhe. Mas Deus está nos detalhes...

Em 2018, o Relógio Astronômico de Praga foi completamente restaurado, em comemoração aos 100 anos da República Tcheca. E foi um restauro criterioso, sem adicionar nenhuma tecnologia que não existisse em 1410, ano de sua construção. Ficou lindo, novinho. Mas o show continua o mesmo – vinte segundos fugazes de pura beleza.

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