Terezín, recordação necessária
Inteirar-se acerca das grandes atrocidades da história, e tomar consciência de suas consequências é o primeiro passo para saber porque elas não devem se repetir. Assim, a visita ao antigo campo de concentração nazista e ao gueto de Terezín é tão emocionante quanto essencial.
Por: Jess Garbarino
Publicado: Setembro 05, 2019
Desde quando você chega ao ponto de encontro para o passeio que o levará a Terezín, saberá que este será um dia de emoções intensas. Os 62 quilômetros que separam a cidade de Praga do antigo campo de concentração nazista e do gueto também servem para aprofundar a história de um dos lugares na República Tcheca que guardam as mais tristes lembranças.
A fortaleza de Terezín foi construída ao final do século 18, por ordem do imperador austríaco Joseph II. O plano era que fizesse parte de um sistema de defesa jamais levado adiante. Terezín (também conhecida por Theresienstadt) recebeu este nome por conta da mãe do imperador, Maria Teresa da Áustria, que reinou entre 1740 e 1780.
Os anos terríveis
Durante o século 19, a fortaleza foi utilizada como cárcere para presos políticos. Dentre eles, o mais célebre é Gavrilo Princip, assassino do arquiduque Francisco Fernando da Áustria e da sua esposa, condessa Sofia Chotek. O crime de Gavrilo foi um dos detonadores da Primeira Guerra Mundial.
Em meados de 1940, a gestapo assumiu o controle da fortificação, e transformou a chamada "Pequena Fortaleza" em uma prisão. No ano seguinte, a cidade de Terezín, ou "Grande Fortaleza", tornou-se um gueto judeu murado. Localizada muito perto da fronteira com a Alemanha, a fortaleza de Terezín foi convertida em um campo de concentração nazista. Sua principal função era a de ponto de trânsito para os campos de extermínio localizados no Leste. No entanto, eram tão duras as condições de vida na fortaleza - superlotação, fome, doenças, que cerca de 33 mil presos morreram ali mesmo.
Em 1943, 476 judeus dinamarqueses foram deportados para Terezín. Fortes pressões internacionais do governo da Dinamarca fizeram com que os nazistas decidissem converter o campo de concentração em um lugar modelo, ou, de propaganda. Era intenção enganar a opinião internacional sobre o que realmente acontecia ali. Em 1944, foi autorizada uma inspeção da Cruz Vermelha. Então, criou-se uma grande cenografia para encenar que em Terezín os judeus levavam vida aprazível. Os nazistas produziram um filme que encenava a doação aos judeus, pelo führer, de uma aldeia que reproduzia a cidade natal deles. Mas, tanto o diretor, como a equipe de filmagem e os entrevistados, ao término do trabalho foram enviados à Auschwitz, para morrer nas câmaras de gás.
Os números do horror
Conforme constatado em registros da época, por volta de 144 mil judeus foram enviados a Terezín. Dentre eles, cerca de 33 mil prisioneiros morreram neste campo de concentração, por fome ou enfermidades. Foram levadas 88 mil pessoas para Auschwitz e outros campos de extermínio. Ao término da Segunda Guerra, em 1945, foram encontrados 17 mil sobreviventes em Teresín, por onde passaram 15 mil crianças, das quais somente 93 foram salvas.
Visita em três tempos
A visita a Teresín começa em frente ao Cemitério Nacional, que fica logo antes da entrada da Pequena Fortaleza. Lá, uma grande cruz (em homenagem aos presos políticos não-judeus) e uma Estrela de David se destacam. É um campo muito verde, com fileiras de túmulos lembrando as vítimas da gestapo na prisão, no gueto, e no campo de concentração de Litoměřice.
Já dentro da Pequena Fortaleza, o guia conduz até a área administrativa. Logo, uma porta encimada pela frase “O trabalho liberta” dá acesso à área da prisão. Ali estão as salas de isolamento; os assustadores lugares aonde ficavam os prisioneiros; duchas (de água e não gás, porque não era campo de extermínio); barbearia, criada somente para a visita da Cruz Vermelha; e lavanderia, aonde era usado vapor para desinfetar a roupa. Então, chega-se à entrada de um estreito túnel com extensão de 500 metros (desaconselhado para claustrofóbicos), que conduz ao campo de treinamento e de execução. Deste ponto, é possível chegar ao lugar das casas dos hierarcas nazistas, com piscinas. Nos dias atuais, ali há um pequeno cinema para exibir o documentário A Cidade Presenteada, que mostra fragmentos da filmagem feita em Terezín, para dissuadir rumores sobre os campos de extermínio.
A segunda parada da visita é no gueto judeu, ou Grande Fortaleza, que foi organizada em torno de uma praça central, onde cada prédio tinha uma função diferente. Hoje, na localização da antiga escola dos meninos, está o interessante e muito comovente Museu do Gueto, cujo primeiro andar é dedicado às crianças que moravam naquela casa – dentre as quais pouquíssimas sobreviveram; e o andar superior, com foco na história do lugar.
Por último, a terceira parte da visita leva ao cemitério judeu, ao cemitério dos soldados russos, e ao assustador crematório, construído em 1942 para dar fim à enorme quantidade de corpos que o gueto gerava. Antes, logo à entrada desta parte do conjunto, presta homenagem às vítimas uma enorme pedra – que na visão cósmica judaica simboliza a permanência. Então, devemos refletir o quanto importante é que Terezín, e todo o horror ali perpetrado outrora, ocupem lugar perene em nossas consciências, para que cada um de nós sejamos pequenas pedras a levar a humanidade a repudiar definitivamente o ódio.
Web oficial – Memorial Terezín
Para fazer a visita: Premiant organiza viagens de meio dia, desde Praga. O programa dura cinco horas, incluindo uma hora de viagem de ida, e uma hora de retorno.| Fone: +420 606 600 123.