Praga: viagem do desamor à paixão

Reconheço que meu relacionamento com a cidade de Praga foi uma jornada percorrida desde o desamor à paixão. Eu explico.

Por: Colaborador Convidado

Publicado: Outubro 05, 2019

Em uma de minhas primeiras viagens em carro pela Europa, no início dos anos 80 fui a Budapeste e viajei pela Hungria. Eram tempos quando ainda permaneciam alguns regimes comunistas. Naquela ocasião, eu queria visitar Praga, localizada nas proximidades. Porém, ao solicitar o necessário visto, cometi um erro: informei a minha profissão - jornalista. Eu não sabia que a entrada no país era vedada a jornalistas, padres e militares. Daí, decidi esquecer a então Tchecoslováquia.

Muitos anos depois, em agosto de 2008, quando Praga já era a capital de uma República Tcheca totalmente integrada à Europa Ocidental, eu queria visitá-la para compensar o desencontro inicial. E aqui começa a história da paixão.

Na condição de blogueiro de viagens, durante conversas ou entrevistas, quando perguntam sobre minhas cidades favoritas na Europa eu sempre aponto Praga. Às vezes, os interlocutores ficam surpresos com a minha escolha, e priorizam outras cidades, como Paris, Londres ou Berlim. Para mim, Praga tem uma auréola diferente. Com todas as vantagens que oferece, é uma grande capital, sim, mas, ao mesmo tempo, é de ‘conto de fadas’.

Você pode percorrer Praga sem necessidade de usar o transporte público. É uma cidade para andar e se perder, por exemplo, nas ruas estreitas da antiga cidade medieval. As ruazinhas o levam a uma das praças mais bonitas que eu já vi – a Praça da Cidade Antiga. Dentre os monumentos, o meu favorito é o Templo de Týn. Em segundo plano, majestoso, este templo se ergue acima das belas fachadas das edificações que estão na praça.

Momentos igualmente sublimes são vivenciados ao passar sob as antigas portas medievais e as construções em estilo gótico, no Centro Histórico. Como a Torre da Pólvora, que contrasta com o belo edifício art noveau da Antiga Prefeitura (não deixe de entrar na cafeteria). Cruze sob a Torre da Cidade Antiga, que dá acesso à famosa Ponte de Carlos - em certas horas, ali há movimento turístico intenso, explicado pelas belas vistas da cidade, nas duas margens do rio Moldava. Atravessar esta histórica ponte, exclusiva para pedestres, é um convite a subir ao recinto fortificado do Castelo de Praga, que concentra alguns dos monumentos mais importantes da cidade.

Antes, você deve passear pelo bairro Malá Strana, onde encontrará retalhos de outras épocas da história de Praga. Você conhecerá a imponente Igreja barroca de São Nicolau, na bela Praça de Malá Strana. Perto, a Igreja do Menino Jesus de Praga, um dos lugares mais reverenciados em um país onde o ateísmo é quase a ‘religião oficial’. Junto ao rio, você verá o Muro de John Lennon – na época do regime comunista, um símbolo da juventude tcheca à liberdade e ao pacifismo.

Para subir ao Castelo de Praga você percorrerá a Rua Nerudova, entremeando edifícios palacianos que abrigam várias embaixadas. Na realidade, o castelo não é, exatamente, como muitos imaginam. É um conjunto de edifícios e monumentos, agrupados no interior de grande fortificação. Você precisará de tempo para visitar todas as maravilhas. Lá está o grande edifício gótico da Catedral de Praga, o Palácio Real, a Basílica e o Mosteiro de São Jorge.

Ainda, você encontrará recantos com charme especial, como o chamado Beco Dourado, e poderá combinar a sua visita com a Troca da Guarda, que ocorre no pátio principal, às 12 horas. Durante a visita, você não deve perder um passeio pelos jardins que cercam o Castelo de Praga, desde onde terá excelentes vistas panorâmicas da cidade.

Se você quiser ver a famosa vista panorâmica da sucessão de pontes que cruzam o rio Moldava, deve ir ao Parque Letná. Dois outros recantos devem ser registrados para a sua visita a Praga. Um deles é o antigo Bairro Judeu – uma vez ali, você não deve perder o histórico cemitério, bem como, no mínimo, uma das suas sinagogas. Outro, a inovadora e curiosa Casa Dançante, projetada pelo prestigiado arquiteto Frank Gehry, que você ver à beira do rio, no bairro Nové Město (Cidade Nova).

Contudo, Praga não é apenas a cidade dos monumentos, mas também de atmosfera vibrante, envolvente. Você encontrará tal atmosfera quando tomar uma típica e deliciosa cerveja tcheca, comer em um dos restaurantes na Praça da Cidade Antiga ou nas ruas que se estendem pelas duas margens do rio Moldava. Praga também é cultura e música clássica, então, meu conselho é reservar tempo para assistir a um concerto.

Há na cidade amplas opções, desde as orquestras de prestígio, que se apresentam em grandes auditórios - como a Sala Smetana, da Câmara Municipal; e o Teatro Estatal -, aos concertos de música de câmara, com programas diários, inclusive, em várias igrejas. E, se preferir, eu lembro que Praga é a capital do Teatro Negro tcheco original.

Além disso, se você tiver dias suficientes, vale fazer uma excursão pelos arredores da cidade. Por exemplo, visitar o Castelo Medieval de Karlštejn, que fica bem perto da capital tcheca e aguarda a sua visita a partir de imponente localização. É uma das excursões para um único lugar, que leva você em viagem por trem com duração de apenas 45 minutos.

Pouco mais distante você encontra Kutná Hora, pequena cidade medieval declarada Patrimônio da Humanidade por conta da catedral gótica de Santa Bárbara, à qual você chega após uma hora e meia de viagem, a partir de Praga. Mas, Kutná Hora tem mais fama por conta de um lugar curioso e perturbador - a Capela dos Ossos. Na verdade, é um ossuário que guarda milhares de ossos humanos, que foram utilizados também para decorar por completo o lugar.

Em suma, ouso prever que em sua viagem a Praga você também começará uma história de amor e paixão pela capital tcheca.

*José Luis Sarralde é jornalista, criador do blog de viagens Guides Viajes, e um dos fundadores do grupo de blogueiros de viagens Travel Inspirers.

Mais informações: Guides Travel

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