O sui generis Relógio Astronômico de Olomouc
Olomouc tem um lindo relógio astronômico. Porém, ele sofreu uma modificação inusitada, que faz dele uma peça única no gênero.
Por: Colaborador Convidado
Publicado: Setembro 21, 2020
Olomouc sempre foi uma importante cidade tcheca. Ela foi (e continua sendo) sede do arcebispado da Morávia, a região na qual está inserida. Na época barroca, em que a igreja católica estava no auge, Olomouc era um centro de poder.
E no centro do centro de poder estava a praça principal. Nesta praça, foram construídos diversos monumentos barrocos, como as fontes e a coluna da Santíssima Trindade, ela sozinha um patrimônio da humanidade da UNESCO.
E, como era costume em cidades importantes, a torre da prefeitura recebeu um relógio. Mas como a cidade era MUITO importante, foi feito um relógio astronômico. E como era hábito na época do barroco, este relógio era decorado com imagens religiosas, e oferecia um pequeno show com imagens dos apóstolos.
E assim foi por algumas centenas de anos, até que 1948 trouxe para a então Tchecoslováquia o advento do socialismo. E, no socialismo, religiões são o ópio do povo, e não fazia sentido uma cidade como Olomouc ostentar imagens de santos. Por isso, nos anos 50, o relógio astronômico foi remodelado pelo governo socialista. As imagens religiosas e estátuas de santos foram substituídos de acordo com estética socialista. Saiu São Pedro e entrou O Cientista; saiu São Tiago e entrou A Esportista; Saiu São Tomé e entrou O Trabalhador do Campo. As figuras do proletariado socialista dominaram o relógio.
O relógio astronômico de Olomouc é generoso em sua apresentação diária, sempre ao meio-dia. São cinco minutos de espetáculo (contra 20 segundo do seu correlato de Praga), com muita música e movimento. E, no final, no alto da estrutura, um galo dourado canta – um símbolo católico que sobreviveu à releitura socialista.
O socialismo foi banido, mas o relógio astronômico de Olomouc permanece na mesma forma. Há um consenso que não se deve modificar as obras da época socialista apenas porque foram feitas por socialistas. Estas obras também são parte da história do país e, se não homenageiam criminosos ou opressores, devem sim ser preservadas.