Em Brno, a arquitetura tem vida própria
A capital da Morávia é o destino perfeito para os amantes da arquitetura moderna, mas também para quem procura descobrir uma cidade sob original e distinto olhar.
Por: Javier Mazorra
Publicado: Setembro 23, 2019
N a capital da Morávia há que conhecer seu carismático crocodilo; enredar-se nas construções subterrâneas; visitar Špilberk – o castelo da cidade. Mas, para mim, acima de tudo Brno é um dos melhores lugares do mundo para descobrir a arquitetura moderna de autores com letras maiúsculas. Especialmente, edificações construídas entre 1918 e 1945. Há meio milhar de edifícios datados desse período - cerca de cento e cinquenta são extraordinários. Nove rotas foram criadas para que aquela herança extraordinária seja conhecida e usufruída, em termos históricos.
Há pouquíssimas cidades no planeta nas quais a arquitetura ganhou tanta importância durante a primeira metade do século 20. Para os governantes de Brno e para seus arquitetos e artistas, a nova Tchecoslováquia que acabara de nascer deveria ter seu próprio estilo racionalista, e alguns edifícios em acordo com a nova era. Tiveram a sorte de as condições econômicas permitirem iniciar o trabalho de pronto, tornando realidade muitos dos projetos inovadores propostos.
Felizmente, muitas dessas obras chegaram praticamente intactas até nossos dias. Apesar de que, após a Segunda Guerra Mundial, tal arquitetura seria ignorada e com frequência desprezada pelo regime comunista, que chegou a aprisionar vários de seus criadores mais notórios.
A joia mais preciosa é a Vila Tugendhat,possivelmente a casa particular mais espetacular que o grande arquiteto alemão Mies van der Rohe projetou durante a sua carreira. A Vila Tugendhat foi declarada Patrimônio da Humanidade, e só pode ser visitada mediante reserva com semanas de antecedência.
Há muitas outras maravilhas facilmente acessíveis, espalhadas por todo o município e seus arredores próximos. O mais aconselhável é começar a explorar o centro. Através do projeto BAM, a prefeitura sinalizou perto de sessenta edifícios ao longo de uma rota com cerca de 4 km de extensão, a qual permite conhecer as obras de muitos dos protagonistas do Brno de entreguerras.O curioso é que muitos desses lugares permanecem em uso, porém, são acessíveis ao público. Você poderá visitar, por exemplo, o Moravská banca (Banco da Morávia), projetado por duas das grandes figuras do movimento racionalista - Ernst Wiesner e Bohuslav Fuchs – de autoria deste arquiteto você poderá ver, inclusive, o emblemático Café Zeman, reconstruído após ser destruído por razões políticas.
No mais, cada qual conforme seu interesse poderá utilizar o tempo disponível para criar roteiro pessoal. O transporte público em Brno funciona muito bem, e chega a todos os lugares. Você poderá conhecer os diferentes prédios concebidos à época para abrigar os cafés. São imperdíveis: o Savoy, de Jindřich Kumpošt;e o café do grande armazém Koldaba, de Jan Višek. O prédio deste café foi recentemente restaurado, o que ocorreu também na Era de Joseph Kranz. É localizado próximo à Vila Tugendhat.
Outra possibilidade é procurar os mais significativos edifícios em concreto assinados por arquitetos específicos, como Wiesner e Fuchs. Esta opção permite descobrir grande parte dos nove itinerários.Por outro lado, quem deseja conhecer lojas para curtir a arquitetura, será satisfeito ao percorrer as rotas propostas. Por exemplo, conhecerá o antigo edifício BATA (CENTRUM), projetado por Vladimír Karfík, embora modificado; e a Brouk & Babka (atualmente BATA), loja de departamentos que funciona em prédio projetado pelo arquiteto Miroslav Kopřiva.
Para quem procura um lugar muito especial, a dica é visitar a Vila Stiasny, projetada por Wiesner. Inicialmente residência da então proeminente família Stiasny, a vila teve diferente perfil logo nos primeiros anos da construção, ocorrida em 1927. Tornou-se a residência de personalidades estrangeiras em visita à cidade. A vila tem por atração adicional estar cercada por trinta outras vilas espetaculares, localizadas nos arredores do complexo Masaryk. Criadas durante os anos 20, estas vilas são exemplo máximo da nova arquitetura funcional desenvolvida em grande parte da atual República Tcheca.
Outro local singular é o Centro de Exposições e Congressos, construído nos anos 20 com a colaboração de alguns dos grandes arquitetos da época. Embora seja esta a cidade de nascimento do festejado arquiteto Adolf Loos, o único trabalho dele em Brno são os interiores do incomum Palácio Bauer, localizado nas proximidades do Centro de Exposições. Na casa onde Loos nasceu, hoje está o Hotel Continental, interessante edifício projetado por Zdeněk Řihák.
Em tempo: se você deseja conhecer os principais trabalhos de Loos na República Tcheca, deve visitar Pilsen, aonde foram restauradas várias casas por ele projetadas.