Alma tcheca, inspiração única para várias obras e Autores
Além do fascínio que exerce sobre quem a visita, Praga é fonte de inspiração para artistas e escritores, não é de hoje e é compreensível. A capital tcheca e o país acrescentam às suas belezas acontecimentos históricos que instigam a imaginação.
Por: Colaborador Convidado
Publicado: Maio 07, 2020
Tchéquia caminha a sua história entre monumentos, castelos, invejável natureza - verdadeiro caleidoscópio a formar o cenário que alimenta obras literárias desde há muito. Algumas são histórias reais, outras fantásticas, e há aquelas que são a mistura de ambas. Celeiro de grandes escritores, a República Tcheca e Praga atraíram também autores estrangeiros.
HHhH - Quem matou Roland Barthes, Laurent Binet – A ocupação de Praga pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial sustenta a narrativa de HHhH, obra do francês Laurent Binet que lhe valeu (2010) o Prix Gouncourt (Prêmio Gouncourt). Prêmio literário mais cobiçado na França, é concedido pela Société Littéraire des Goncourt (Sociedade Literária dos Goncourt).
Soma de ficção e realidade, o título HHhH alude a Himmlers Hirn heißt Heydrich, implacável chefe da Gestapo. Considerado o cérebro de Hitler, Heydrich foi nomeado “protetor” da Boêmia-Morávia, território anexado ao III Reich logo após a invasão (15 de março de 1939) da então jovem nação tchecoslovaca (fundada em outubro de 1919).
Logo após, Hitler nomeou Heydrich - implacável e cruel chefe da Gestapo – para “protetor” da nova possessão. Soma de ditador e vice-rei, HHhH submetia os tchecos a horrores e execuções sumárias, tanto que recebeu o apelido de “carrasco de Praga”.
Nesse cenário, Binet textualiza a trajetória de Jan Kubi e Jozef Gabcík – até então (1941), obscuros sargentos do exército tchecoslovaco, encarregados do atentado fatal que teve Heydrich como alvo. A primeira editora a trazer HHhH ao Brasil foi a Companhia das Letras (seguida por outras), em 2012. Disponível, inclusive, em e-book. Leia trecho.
Golem, Gustav Meyrink– Gerações de leitores foram cativados desde que, em 1919, aconteceu a publicação da enigmática obra de Gustav Meyrink (1868 – 1932), austríaco que aos 16 anos de idade mudou-se para Praga, aonde foi estudar. A história de Golem tem origem em conjunto de lendas da Cabala, que versam sobre a criação artificial da vida através do poder evocativo das letras.
Na narrativa de Meyrink, Golem é um ser artificial que ganha vida a cada 33 anos. Inerte ou animado, ele vive numa sala sem acesso, em algum lugar do labiríntico gueto de Praga. É personagem de duplo significado – representa o lado sombrio do protagonista Athanasius Pernath, e outras vezes, a consciência coletiva do bairro judeu.
O romance é amálgama do visível com o invisível, do sonho com a realidade. Nessa fascinante confusão caótica, o ocultismo e a Cabala se somam a fantasias messiânicas. O final surpreende a imaginação. Hemus Editora, selo da Martins Fontes, 1989.
A Brincadeira, Milan Kundera- Após a expulsão dos nazistas, durante 40 anos os comunistas detiveram o poder na então Tchecoslováquia. Os dias iniciais do advento do comunismo são tema do primeiro romance de Milan Kundera, intitulado A Brincadeira (1967). O cenário é a invasão de Praga pelos tanques da União Soviética e do Pacto de Varsóvia.
Contudo, nem política, nem história estão no centro da narrativa, mas os enigmas da existência humana. Publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 1999, o livro é encontrado somente em sebos, e pode ser solicitado pela internet. Companhia das Letras, 2017. Praga está presente também na mais famosa obra de Milan Kundera - A Insustentável Leveza do Ser.
As Aventuras de O Bom Soldado Švejk, Jaroslav Hašek- Praga e os cenários da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) serviram de inspiração para obra do celebrado autor tcheco Jaroslav Hašek (1883 – 1923). O perfil desse escritor, quadrinista, humorista, boêmio pode ser resumido na sua opção por confrontar – ele era anarquista.
Em As Aventuras do Bom Soldado Švejk, Jaroslav Hašek traz abordagens cômicas para provocar reflexões sobre o absurdo da guerra e dos regimes antidemocráticos. Personagem ambíguo, o Soldado Švejk se situa entre o tolo e o dissimulado, envolvendo-se em impagáveis trapalhadas. Companhia das Letras, 2014, no catálogo do selo Alfagara.
O Processo, Amerika, O Castelo– No mínimo para estas três obras, Franz Kafka, o mais famoso escritor tcheco, inspirou-se nos meandros de Praga. O curioso é que tais obras jamais foram concluídas pelo autor.
A Cosac Naify, extraordinária editora infelizmente extinta em 2017, publicou (2013) no Brasil “Meu Kafka” – original em alemão de autoria de Stefanie Harjes. Fragmentos de romances de Kafka, incluídos os mencionados, contos e cartas de autoria dele estão compilados na coletânea, que constitui excelente fonte para conhecer as obras e entender o inquietante universo de um dos maiores escritores do século 20. Comercializado pela Amazon.