Um dia em Karlovy Vary

Para quem quer ver a República Tcheca além de Praga – o que eu recomendo veementemente – existem várias opções de passeios bate-e-volta, aqueles que você vai pela manhã e volta de noitinha e, assim, não precisa trocar de hotel.

Por: Luiz Fernando Destro

Publicado: Abril 09, 2020

O mais procurado é sem dúvida Karlovy Vary. Motivos não faltam.

O nome da cidade significa “Os banhos de Carlos”. Em alemão, Carlsbad, e talvez esse nome seja mais familiar, já que era o mais usado nos anos de ouro da cidade, quando por ali era território do império Habsburgo. Pois o tal Carlos que deu nome à cidade é ninguém menos que Carlos IV, imperador do sacro império romano-germânico, nascido e criado em solo tcheco e o maior rei tcheco de todos os tempos.

Conta a história que um dia Carlos estava caçando pelos bosques da região e avistou um cervo. Perseguiu o cervo até que ele (o cervo) parou em uma pedra, na beira da ribanceira. E de lá de cima Carlos avistou um jato de água saindo do solo no vale abaixo. Era uma grande fonte de água termal, e o rei mandou instalar ali um povoado.

E o tal povoado foi crescendo (e pegando fogo, pois eram construções de madeira) ao longo dos séculos. Mas quando chegamos ao século XIX, as construções já eram mais confiáveis, de pedra e tijolos. Ao mesmo tempo, o lugar virou um centro de turismo do império Habsburgo, pois possuía águas quentes para tratamentos medicinais e bosques com ar puro e natureza. Chiques e famosos passavam longas temporadas por lá – gente do naipe da imperatriz Sissi, do czar Pedro, do rei Eduardo VII da Inglaterra, Pedro II do Brasil. E também artistas e intelectuais – Beethoven, Mozart, Goethe, Freud, Schilling...

 

Foi justamente esta seleta clientela que fez Karlovy Vary ganhar um ar aristocrático, que mantém até hoje. A cidade é incrivelmente fotogênica, e agradabilíssima de caminhar – seja nos calçadões do vale, onde estão as colunatas, fontes termais e lojas, seja nos bosques que circundam a cidade e proporcionam lindas vistas.

Para um bate-e-volta de um dia, imaginando que saia cedo de Praga (por volta de 8h30), o que recomendo é:

  • Desembarcar perto do hotel Thermal. Se for de ônibus, a rodoviária fica a um quarteirão.

  • Caminhar desde o hotel Thermal, seguindo o rio, em direção à Colunata de Ferro. As colunatas são corredores cobertos, que protegem as fontes de águas termais. Estas colunatas eram usadas para as caminhadas terapêuticas após o consumo da água. A colunata de ferro é um lindíssimo trabalho de arquitetura e serralheria.

  • Continue a caminhada até a Colunata de Pedra – Essa é a maior e mais imponente colunata, abriga várias fontes e, nos verões, apresentações de música de câmera e orquestras.

  • Continue a caminhada até a Colunata de Madeira – Também chamada de colunata do mercado, porque ali acontecia a feira livre. É impressionante o nível de detalhe da decoração, com ‘rendas’ feitas em madeira. Ao lado desta colunata está a Coluna da Peste da cidade, monumento típico da Europa Central. 

  • Em frente a colunata de madeira há uma escadaria que dá acesso a Colunata Funcionalista – Esta colunata era de ferro, mas foi desmontada pelos alemães na segunda guerra, que usaram o ferro na confecção de armas. Mais tarde, os socialistas construíram uma nova colunata, no estilo funcionalista – muito concreto, blocos pesados, cores cinza e preto... É uma colunata polêmica, porque destoa com o resto da cidade. Mas também é parte da história. Nesta colunata está a principal fonte da cidade, aquela que Carlos viu do alto do morro.

  • Continue a caminhada pelo calçadão, até chegar ao Grand Hotel Pupp – O hotel é uma atração por si só. Já foi cenário de vários filmes, como 007 Cassino Royale e As Férias de Minha Vida. O edifício do século XVIII é precioso, com interiores decorados. Você pode almoçar no hotel (na mesa do James Bond!), ou, se preferir, tomar um café com doce na confeitaria do sr. Pupp que, antes de ser hoteleiro, era confeiteiro.

Se sua caminhada foi num passo constante, sem muitas paradas, todo esse trecho foi feito em, no máximo, duas horas. Com a parada no Pupp e tudo mais, ainda dá tempo de ver mais alguma coisa.  Então, a parte dois é:

  • Suba no funicular localizado ao lado do Grand Hotel Pupp (olhando o hotel, acesso por uma ruela à direita).

  • No fim da linha, você estará nos bosques. Caminhe pelas trilhas, como fez o rei Carlos no passado. Tem até a pedra do cervo, com uma estátua dele (o cervo, não o rei!). Além de vários mirantes com vistas preciosas.

  • Saindo do bosque, dá para acessar a parte alta da cidade, com várias mansões e até uma igreja ortodoxa, fácil de distinguir pela cúpula dourada.

  • Desça de volta ao vale, ou siga pelas ruas altas até retornar o hotel Thermal.

Esse é o roteiro básico. Mas você pode querer adaptar, incluindo outras atrações como o Museu da Becherovka, o famoso licor tcheco produzido na cidade, ou a fábrica de cristais Moser, na qual se vê os sopradores em ação, criando peças incríveis em cristal, que depois vão ser vendidas para casas reais e embaixadas do mundo todo.  Ou pode querer estender o tempo nos calçadões e fazer comprinhas... de cristais a cosméticos, de rosas petrificadas a bolachas de balneário... Enfim, customize de acordo com seu gosto. E, se não der tempo para fazer tudo, talvez você deva considerar passar uma noite por lá. Quase todos os hotéis têm banhos termais e massagens... não seria má ideia!

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